Formação docente digital avança, mas ainda é desafio frente ao uso de IA nas escolas

A 15ª edição da pesquisa TIC Educação, divulgada pelo Cetic.br | NIC.br em setembro de 2025, traz dados que apontam para transformações significativas no ecossistema educacional brasileiro. O levantamento mostra que sete em cada dez alunos do Ensino Médio usuários da Internet utilizam ferramentas de inteligência artificial generativa — como ChatGPT, Copilot e Gemini — em pesquisas escolares. 

No entanto, apenas 32% desses estudantes receberam orientações formais da escola sobre como usar essas tecnologias, evidenciando a necessidade de mediação pedagógica e formação docente contínua. 

Formação docente em tecnologias digitais: avanços e desafios 

Entre os destaques da TIC Educação 2024 está a participação dos professores em programas de desenvolvimento profissional. Segundo o estudo, 54% dos docentes realizaram, nos últimos 12 meses, atividades de formação voltadas ao uso de tecnologias digitais no ensino. 

Os dados revelam, entretanto, uma queda preocupante na rede municipal: em 2021, 62% dos professores municipais relatavam participação em formações digitais; em 2024, esse percentual caiu para 43%. 

As áreas mais procuradas pelos docentes foram: 

  • Cursos sobre plataformas, programas e aplicativos para criação de materiais didáticos (82%); 
  • Estratégias para adaptar atividades aos diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos (79%); 
  • Formação em segurança digital e uso crítico das mídias (68%); 
  • Educação midiática e orientação sobre uso seguro das tecnologias digitais (69%). 

Por outro lado, apenas 59% dos professores receberam formação específica para orientar o uso de inteligência artificial em atividades educacionais, indicando um ponto crítico para a atualização profissional diante das novas demandas tecnológicas. 

Estudantes e a nova realidade digital 

A pesquisa mostra que a Internet já é parte central da rotina de aprendizagem: 

  • 86% dos alunos buscam online explicações para conteúdos que não compreenderam; 
  • 84% pesquisam para elaborar trabalhos escolares; 
  • 78% utilizam aplicativos e plataformas para praticar o que estão aprendendo. 

Um dado inédito chama atenção: 72% dos estudantes afirmam usar canais e aplicativos de vídeo como fonte de pesquisa — um percentual praticamente igual ao dos que recorrem aos buscadores tradicionais (74%). Isso reforça a mudança no comportamento de busca de informações entre jovens e adolescentes. 

Educação digital e mediação crítica 

Embora 89% dos coordenadores pedagógicos relatem que suas escolas promovem atividades sobre temas como cyberbullying, privacidade e uso de IA, apenas 30% afirmam que essas discussões acontecem de forma contínua. Em quase metade das instituições (49%), os temas são trabalhados apenas uma ou duas vezes por ano. 

Segundo Renata Mielli, coordenadora do CGI.br, os dados exigem reflexão: 

“As respostas geradas por ferramentas de IA podem conter vieses ou informações incorretas. Sem uma mediação adequada, o impacto na formação das novas gerações pode ser profundo.” 

Conectividade e desigualdades 

O estudo também aponta avanços na conectividade escolar: 96% das escolas brasileiras têm acesso à Internet, chegando a 94% nas municipais e a 89% nas rurais. Ainda assim, persistem desigualdades: nas redes estaduais, 67% dos alunos usam a Internet em atividades propostas pelos professores, enquanto, na rede municipal, apenas 27% têm esse acesso garantido. 

O que isso significa para professores e gestores? 

Os dados da TIC Educação 2024 revelam que o Brasil vive um momento de transição educacional, em que alunos estão cada vez mais expostos a ferramentas digitais — especialmente à inteligência artificial — enquanto professores ainda carecem de formações consistentes para mediar esse processo de forma crítica, segura e pedagógica. 

Para escolas, redes de ensino e gestores educacionais, o desafio não é apenas garantir o acesso às tecnologias, mas investir em formação docente contínua, com foco em: 

  • uso pedagógico da inteligência artificial; 
  • educação midiática e digital crítica; 
  • estratégias para reduzir desigualdades de acesso. 

 

📊 Fonte dos dados: TIC Educação 2024 – Cetic.br | NIC.br 

🎥 O lançamento da pesquisa está disponível no YouTube. 

 

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